quinta-feira, 15 de abril de 2010

posts em atraso 2 - Cemitério judaico de Varsóvia

Em Varsóvia antes da Segunda Guerra Mundial os judeus eram um terço da população da cidade, cerca de 300 mil!
Agora devem ser umas centenas. O gueto de Varsóvia ocupava uma zona imensa, quase o centro toda da cidade.
Quando os Nazis estavam a deportar em massa os judeus do Gueto, houve a revolta do gueto de Varsóvia. Os judeus com armas contrabandeadas do lado polaco resistiram durante uns tempos às forças alemãs. Porém, a consequência foi cada casa incendiada e destruída, uma a uma, para terem a certeza que toda a gente era apanhada. Por isso em toda Varsóvia só resta uma rua pequenita do gueto no estado original..e há só duas zonas onde se pode ver o que resta do muro do gueto..Resta ainda uma sinanoga, uma. De uma comunidade do tamanho de Gaia..Fica perto dessa rua.
Mesmo sabendo destes facto todos, só consegui ter a percepção da perda que este terço da população teve para a cidade quando visitei o cemitério judaico mais antigo da cidade.
É tão grande..imensas imensas campas..e o facto de estar pouco cuidado, embora me tenham dito que isso também faz mais parte de estilo judeu de cemitérios, com pouquíssimas campas com pedrinhas em cima..isso sim faz-me aperceber de como a maior parte dos descendentes desta gente terá morrido nos campos, ou no gueto..e que os sobreviventes, se os houver, estarão a viver agora em Israel, ou nos EUA e as campas para lá estão. Quase esquecidas. Nesta cidade meia esquecida, quase totalmente destruída durante a Guerra..Hmm chega de assuntos pesados por hoje ;)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

posts em atraso 1 - Auschwitz




Depois de seis meses na Polónia visitei pela primeira vez um campo de concentração. Auschwitz, foi o nome dado pelos alemães à cidade polaca de Oświęcim, e o tão famoso campo fica nos arredores desta cidade.
Primeira impressão estranha: a entrada do campo está rodeada por uma espécie de terminal de autocarros..cheio..! Imensa gente a entrar pelo edifício da recepção..imensos grupos com visitas guiadas..depois de passar por este edifício é que se chega à tal entrada do campo com a inscrição famosa de "O trabalho liberta" .
Lá dentro há umas filas de edifícios de 2 andares, originais, com relva à volta.
Em cada edifício podem-se ver partes diferentes da exposição preparada por sobreviventes do campo nos anos seguintes à libertação do campo. Num edifício vê-se uma vitrine enorme cheia de cabelos. Numa outra sapatos, malas...
O estranho é que em cada edifício em que se entra, deparamo-nos com filas de turistas em visitas guiadas a sair ou a entrar..e quando lá estive, no meio de tanta turistada, e com o Sol a brilhar na relva verde, e a imagem dos edifícios bem tratados (não tem mesmo mau aspecto), e há qualquer coisa em mim que não consegue acreditar que este é aquele sítio tão falado, onde a Sra que falei no outro dia tinha sofrido experiências médicas, onde o Sr. José que visitamos para levar o almoço, perdeu os três irmãos, o sítio que toda a gente houve falar no mundo inteiro quando aprende sobre o Holocausto.
É claro que devia ter sido menos ingénua, precisamente por ser um sítio tão badalado na História Mundial é natural que tenha tantos tantos turistas..e isto já há décadas..o que também terá contribuído para uma descaracterização do sítio, com os bus todos à porta e os quiosques a vender comida cá fora..
A outra parte do campo Auschwitz II - Birkenau, não fui visitar por falta de tempo, mas essa é a tal parte com a maior parte das câmaras de gás, e com a linha de comboio que acaba na entrada do campo, imagem que aparecem em tantos filmes. Uns amigos que lá estiveram dizem que lá, sim consegue-se ter mais a percepção da utilização dos campos. É uma zona mais ao abandono, com os restos das chaminés dos crematórios que os Nazis explodiram para destruir as provas no final da guerra..
O que me fez mais impressão nesta visita acabou por ser o grande grupo de miúdos israelitas, à volta dos 16 anos, todos com o chapéuzinho judeu na cabeça e com a bandeira de Israel às costas, que estavam a visitar ao mesmo tempo que nós..
Aperceber-me da dimensão desta imagem. Como um círculo que se fecha..Por causa de isto, do que se fez aqui neste campo, a antepassados deles à 70 anos atrás, criou-se um país novo, no meio da Palestina, Israel, para pôr finalmente os judeus em segurança de um mundo que sempre os perseguiu. E agora estes miúdos, que nasceram num estado judaico, vêm todos numa visita de estudo à Polónia, ou melhor aos restos judaicos da Polónia, conhecer a História /história do seu povo.. Mas em que modos lhes serão contadas as histórias, a História?
Será que lhes insinuam que o que aconteceu aos antepassados deles justifica o que se faz agora aos Palestinianos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia?
Não sei..mas a imagem deste grupo de miúdos a cantar em roda e a agitar as bandeiras fora do campo no final da visita, com toda a gente à volta parada a fitá-los..

sábado, 3 de abril de 2010

poema rápido: antes de ir ao carrefour

(Precisava de dar qualquer coisa a uma qualquer pessoa, escreveu o Gedeão)
quero escrever-te um email.
um poema, digo.
em que ouças os pássaros da Primavera em Varsóvia.
e sintas o calor do Sol que entra pelos estores do meu quarto nesta tarde.
e vejas como o senhor da banca das flores pegou com tanto cuidado
nos miosótis que compramos no outro dia.
Como o verde se está a espreguiçar para fora de tudo, agora.
E por falar em verde,
se andarmos ao calhas a conhecer-nos pelos parques,
então vou te contar como
a brisa, nalguns dias,
parece o Porto no Verão,
com a luz do Douro dos dias sem nuvens,
e os olhares encadeados pelo Sol que se espalha pelas pontes adentro.
Pontes do Porto.
De ferro, grandes e seguras.

Como uma montanha em que(m) se pode confiar.