sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

..and if the snow buries my neighborhood...

..then I'll dig a tunnel from my window to yours..
(O primeiro dia do ano acordou ensonado e coberto de branco. Não parou de nevar, neve miudinha, mas convicta e persistente, toda a noite)
Sleeping is giving in, so lift those heavy eyelids..
e viva a poesia a bondade e as danças!

a sabedoria da Confiança do Torga,
O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...

E entre nós e as palavras, de profundis amamos na Pastelaria ó Cesariny

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Ontem às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os teus eléctricos
os meus estavam perdidos
por natureza própria

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

O Pessoa, pessoas, no Pastor amoroso, e no lúcido também
O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo...

...Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!

...Assim tem sido sempre a minha vida,
e Assim quero que possa ser sempre
-- Vou onde o vento me leva e não me Sinto pensar.

O Álvaro da Tabacaria
Escravos cardíacos das estrelas, Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordámos e ele é opaco, Levantamo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido. 
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas.. 
e a filosofia para a vida do Reis

1 comentário:

N. disse...

sim, senhora ... Ora vejam como a menina anda uma poeta. Tu es muito fina ana:O). Lugar difernte este onde encontras conforto, i.e., as palavras do poeta.
SAudacoes,
Nuno